sábado, 28 de março de 2020

#079 As palavras que retenho e não te digo




As palavras que eu retenho e não te digo,
E não o faço por gosto de castigo,
Acredita que em desgosto sentido
Também eu não as mendigo.
Na desdita, porém, que mantenho, vou guardando
Aquilo que tenho na alma para soltar.
Num esgar misto de lamúria e ternura,
Na brandura do momento em que existo.
No fragmento do lamento que murmuro,
Encontro a coragem lúcida para o sentimento
Quebro, então, o muro e arranco numa viagem.
E nesta demanda em voragem sai-me, então,
Quando abro mão das amarras e espartilhos,
E sem guitarras nem mantilhos grito finalmente:
Sou teu. Somos um do outro. O corpo agito.
E num grito de êxtase partilho com gosto,
Ao mundo todo mostro que em ti me encosto,
E te abraço e demonstro o que estava trancado
E bloqueado no peito agora aberto.
Que te quero perto e apaixonado também,
Porque acerto quando, acalorado, te beijo.
E é nesse desejo palpitante que me entrego,
E como qualquer amante me dou por inteiro,
Sem esperar doravante coisa distinta
Que não seja a verdade do amor intenso,
Infinito e imortal, sem dor nem traição,
Num pleno de emoção e tal tremor
Que, exaustos, e em torpor, nos tocamos,
Nos abraçamos e te digo: Meu amor!

Sem comentários: