domingo, 10 de janeiro de 2021

#089 Escrita sem nexo em tempo de confinamento

 Voltamos a estar confinados por causa da Covid-19.

Um ano já passou e, sem darmos bem conta disso, mudamos. Somos hoje diferentes e não sei algum dia voltaremos exatamente ao que fomos até finais de 2019. Podemos ter saudades de beijos e abraços, sorrisos e cansaços, folia e até amassos, e isso não deixaremos de querer ter, de querer perseguir e possuir, de sonhar, desejar mais e melhores afetos, recuperar viagens não realizadas, experiências adiadas, vidas suspensas e palavras não ditas com a candura de quem as tem guardadas para melhor ocasião.

O que mudou foi a forma como hoje olhamos para a vida, para a alteração de comportamentos sociais, de padrões de comportamento e até na relação com o mundo profissional.

Esta existência engaiolada, esta forma de estarmos aprisionados e de voluntariamente a isso nos submetermos só é possível porque existe medo, respeito, desconhecimento, desconfiança e até uma certa impotência.


Poderíamos aproveitar para ler mais, ouvir boa música, escrever, ver filmes, estudar e amar mais as pessoas que nos rodeiam. E há quem o faça. Felizmente, existe essa lucidez e essa assertividade em jeito de auto-defesa.

Este escrito de hoje está uma treta, fraco, sem garra, sem profundidade, com pouco sal e suor, sensaborão, redondo. É o resultado da letargia que me invade e da tristeza em que me econtro, enquanto vou adiando decisões pessoais que, a serem tomadas, serão de rotura e novo impulso, novo espaço de desconforto até (re)encontrar o conforto que vem das banalização e das novas rotinas que nos aquietam e nos conferem acolhimento.

domingo, 3 de janeiro de 2021

#088 Saudade

Saudade...

Fruto do amor ausente, qualquer forma de amor e de amar. Um vazio que enche de nada o peito apertado pela ausência de quem nos faz falta. Esta sensação que também promove a proximidade desejada mas, não raras vezes, demorada - e até ansiada.

O sentimento. O vazio. A perda relativa. A distância. A impotência.

E, contudo, num processo criativo e imaginário, surge a proximidade sentida, o abraço torna-se um desejo quase real, surgem as lágrimas piedosas, suplicando os beijos e abraços adiados do "até breve" que pode ou não tardar, sente-se o instante tornado infinito, e inventa-se a conversa adiada olhos nos olhos até de madrugada, o demorarmo-nos na presença do outro antes que tudo acabe, a permanência, a pertença, a existência, a essência.

Um laço fundado nos afetos pode ser mais forte que o aço.

Isso é tão verdade nos espaços filiais, entre pais e filhos ou entre avós e netos.

A saudade não tem substituto nem concorrente. Nada substitui a saudade, aquele perto no peito cheio de vontade, aquele impulso para chorar com o sonho do reencontro, aquela vontade de derramar lágrimas de puro amor salgado na espera do doce novo momento juntos, aquela comoção que insuportavelmente nos faz suportar o adeus ou o até breve, a falta de ar que surge quando já mais nada existe para suspirar. Não há medicamento nem vacina eficazes para a saudade e nada pode ocupar o seu lugar.

Havemos de ter sempre saudades e havemos de saber chorar o vazio e a ausência. Porque isso nos conduz à certa esperança de que voltaremos a estar juntos, mais cedo do que tarde. Porque a saudade traduz o vínculo e o laço, que é mais forte que o aço.

Começa agora mais um período de grande saudade para mim e para nós. Volta depressa filho. Coração de pai (e mãe e avós e irmã) suspiram por ti, tanto quanto te apoiam e desejam sorte, sucesso, sensatez, sensibilidade e também saudade.

Que tenhas também sempre saudades nossas.

Porque a saudade faz parte de nós e ninguém a sente ou descreve como nós, neste sofrimento que confere misericórdia e compaixão.

A saudade dói mas é uma coisa boa.