sábado, 9 de outubro de 2010

#057 Insónia

Acordo com insónias. Eram 5 da manhã.
Não acordo mal disposto nem deprimido - antes conformado e sem lamúrias. A situação em que o país se encontra não me choca porque não constitui novidade, não me angustia porque era inevitável e não me deprime porque acredito em mim, para além do meu país e acredito num punhado de gente boa e sã que teima em querer ser optimista mesmo que tenhamos de assistir diariamente a um conjunto de energúmenos que nos tomam por tolos e fazem discursos irresponsáveis sobre o Estado da Nação e nos mentem a toda a hora.
Ainda não sei quanto me pretendem "sacar" no ordenado, mas serão mais de 8% por certo, depois de me terem "sacado" 1,5% para o IRS em Julho, dizendo que isso chegava para endireitar Portugal e depois de ter tido aumento 0 em 2010 face a 2009.
Sucessiva e alternadamente, sobretudo desde 1985, temos sido governados por gente responsável (pouquíssimos) e irresponsável (esmagadora maioria), por gente competente (pouquíssimos) e incompetente (a larguíssima maioria), por gente sã (pouquíssimos) e perversa (a larguíssima maioria), por pessoas que colocam o interesse público acima de vaidades (pouquíssimos) e outros que não têm qualquer credibilidade e apenas existem para 'amanhar o seu peixe', beneficiar-se e beneficiar meia dúzia de amigos e familiares (a larguíssima maioria).
O resultado está à vista. Somos invariavelmente espoliados e tratados como 'atrasados mentais'. E o mais triste é que, se calhar, temos desejado que assim seja e merecemos que assim seja.
Não acredito, porém, que as medidas agora tomadas sejam suficientes para salvar Portugal.
Não acredito em milagres de contenção da despesa. Gostava de acreditar. Mas não acredito. E não admito como viável continuar a procurar dar equilíbrio às contas por força do aumento da receita, que acabará por matar de vez Portugal e a esperança dos portugueses.
A voraz máquina do Estado só se domestica com pulso forte e com duras medidas: extinção de serviços, fusão administrativa de autarquias, diminuição do número de eleitos e nomeados.
Há, porém, que manter inviolável o fundamento do Estado Social, em especial Educação, Saúde e Protecção Social. Ainda assim, com necessidade de que mesmo estas funções sejam mantidas no essencial.
Estas notícias recentes da festa da Anacom, das medalhas do Fisco e outras "merdices" que enojam são apenas o reflexo da pouca sustentabilidade ética dos quadros que, com base nas pressões dos partidos, acabam por fazer-se revelar com pesada factura para o Estado e, sobretudo, demolindo os argumentos de moralidade que temos ouvido da boca de Teixeira dos Santos, ele próprio um dos 'culpados' por não ter sido capaz de, em 4 anos, controlar a despesa e por não ter tido a coragem de falar a verdade aos portugueses.
"Desta vez é que é!", parecem querer dizer-nos Sócrates e Teixeira dos Santos. Mas eu já nem acredito que desta vez possa ser. Quem me garante que, dentro de 6 meses, este ou outro Governo, não nos virão pedir mais sacrifícios, dizendo que desta feita é que fizeram mesmo as contas e que para nos salvarmos enquanto Estado-Nação precisamos de mais uns quantos sacrifícios?

domingo, 12 de setembro de 2010

#056 Equinócio do Outono

Estamos quase no Equinócio de Outono. Este ano, diz-me a wikipedia, será no dia 23, pelas 03:09 horas.
Pocuo importa. O que aqui quero ressalvar é que este fenómeno que é cíclico, não é sempre igual, não se repete exactamente na mesma medida, ano após ano. Consegue reinventar-se, transmutar-se, recriar-se e obrigar os amantes da física e da astronomia a andarem sempre à sua procura. Por várias razões assim é. Mas não deixa de ser curioso que a Natureza, o Universo, a dimensão do Cosmos infinito nos consigam ainda brindar com fenómenos que nos ensinam todos os dias que, também aqui, devemos romper com rotinas, fugir ao standard que cansa pela monotonia e mata pela falta de criatividade.
Amanhã (re)começam as aulas. No meu papel de pai, educador e transportador de crianças para a escola, retomo uma rotina. Por isso, há que criar outros momentos de vida, outras vivências, que ajudem a fazer o que tem de ser feito em ritual, com pinceladas de luz e cor noutros momentos quotidianos.
Falar é fácil - fazer é mais difícil. Mas este ano comprometo-me a tentar tudo para que o ano escolar - e por inerência, todo o Outono, Inverno e Primavera - decorram com cor e alegria, criando novas vivências, arranjando pontos de fuga ao stress da rotina e fazendo com que os "equinócios" da vida pareçam óbvios e se revelem agradáveis. Sempre!

domingo, 20 de junho de 2010

#055 Viabilizar Portugal

Portugal, tal como hoje o conhecemos, não é viável.
Não temos dimensão, não temos força produtiva, não somos capazes de nos auto-sustentarmos e de nos governarmos sem ajudas externas.
A nossa economia não possui músculo empresarial, endogenamente não temos recursos que nos tornem auto-suficientes.
Existe uma cura mas a mesma é muito dolorosa.
Aceito que se cortem salários e se aumentem os impostos, mas apenas de forma muito, muito transitória. Mas apenas com a condição de se reformar Portugal, para se pensar como poderemos ser viáveis.
Seguramente, não acredito que o possamos ser com esta realidade político-administrativa. Portugal não pode ter tantas freguesias e tantos municípios. Portugal não pode ter tantos autarcas e tantos trabalhadores de autarquias, que tendem a repetir o mesmo, replicando coisas acertadas e coisas erradas. A fase pós-25 de Abril, em que as autarquias fizeram trabalho em prol das populações, está a esgotar-se. Hoje, são outras as preocupações.
Portugal não pode continuar a alimentar uma realidade de administração central fragmentada em serviços de proximidade com tamanha pulverização, nada geradores de vantagens organizacionais e largamente consumidores de recursos humanos, técnicos, logísticos e financeiros, seja na área da educação, da saúde, da segurança social ou outras.
Portugal não pode continuar a apostar num sistema de apoio social que mantém o interior do país despovoado, as terras produtivas por cultivar e a floresta em estado de abandono, sobretudo no caso das propriedades de pequena dimensão, há muito abandonadas.
É preciso olhar para o futuro e tomar decisões. Vai haver contestação, vai haver lamentos, lamúrios e incompreensões. Mas algo tem de ser feito. Não podemos continuar a ter o 'monstro', a ser alimentado por sacrifícios cada vez maiores impostos às famílias e às gerações que se nos seguirão.
Não o fazer será crime, o que julgo ser bem pior.
Mas, para que isto seja possível, precisamos de uma maioria absoluta bem forte para ter legitimidade para agir.
Os tempos que aí vêm serão mais tortuosos. Para viabilizar Portugal impõe-se energia, determinação, clarividência e fazer tudo diferente do que tem sido feito, alternadamente, desde o 25 de Abril, que tem sido mais do mesmo, com todos os responsáveis a contribuírem para enterrar Portugal, um país que é já quase cadáver e se encontra doente em fase terminal.

#054 A propósito de José Saramago

José Saramago faleceu.
Lamento.
Mas nunca li nada dele, nem julgo que irei ler em breve. Talvez não seja inteligente ao ponto de o compreender. Talvez não reúna maturidade intelectual e cultura literária para o assimilar. Admito tudo isso.
Um prémio Nobel no curriculum e tanta gente a dizer que o homem era um génio... pois, talvez sim.
Talvez eu seja apenas comodista e deteste ter de imaginar a pontuação nos seus textos.
Comecei a ler 3 livros: O ano da morte de Ricardo Reis, o Memorial do Convento e o Evangelho segundo Jesus Cristo. Não consegui evoluir muito.
Nunca o admirei politicamente. Nunca admirei a forma como não respeitava as pessoas que não se enquadravam no seu conceito de esquerda. Nunca consegui entender os seus saneamentos nos tempos do DN.
Definitivamente, era um homem polémico, invulgar.
Portugal perdeu, mais que tudo, um embaixador. Não um grande vulto da cultura, na minha opinião.
Mas, como sempre, admito que outros pensem de forma distinta e me corrijam.
Por mim, nem luto nacional havia, nem aviões pagos pelo Estado para o trazer das Canárias.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

#053 Reflexão: O valioso tempo dos maduros

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora.

Tenho muito mais passado do que futuro.

Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.

As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.

Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.

Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram,cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.

Detesto fazer acareação de desafectos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.

'As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'.

Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...

Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com

triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade,

Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,

O essencial faz a vida valer a pena.

E para mim, basta o essencial!"

-

Mário de Andrade

segunda-feira, 17 de maio de 2010

#052 Socialismo bem explicado

Um professor de economia na universidade Texas Tech disse que ele nunca chumbou um só aluno antes, mas tinha, uma vez, chumbado uma classe inteira. Esta classe em particular tinha insistido que o socialismo realmente funcionava: ninguém seria pobre e ninguém seria rico, tudo seria igualitário e 'justo. '
O professor então disse: "Ok, vamos fazer uma experiência socialista nesta classe. Ao invés de dinheiro, usaremos as vossas notas em provas".
Todas as notas seriam concedidas com base na média da classe, e, portanto seriam 'justas. ' Isso quis dizer que todos receberiam as mesmas notas, o que significou que ninguém chumbaria. Isso também quis dizer, claro, que ninguém receberia 20 valores... Logo que a média das primeiras provas foi tirada, todos receberam 14. Quem estudou com dedicação ficou indignado, mas os alunos que não se esforçaram ficaram muito felizes com o resultado.
Quando o segundo teste foi aplicado, os preguiçosos estudaram ainda menos - eles esperavam tirar notas boas de qualquer forma. Aqueles que tinham estudado bastante no início resolveram que eles também se aproveitariam da media das notas. Portanto, agindo contra as suas tendências, eles copiaram os hábitos dos preguiçosos. Em resultado, a segunda média dos testes foi 10. Ninguém gostou.
Depois do terceiro teste, a média geral foi um 5. As notas não voltaram a patamares mais altos, mas as desavenças entre os alunos, buscas por culpados e palavrões passaram a fazer parte da atmosfera das aulas daquela classe. A busca por 'justiça' dos alunos tinha sido a principal causa das reclamações, inimizades e senso de injustiça que passaram a fazer parte daquela turma. No fim de contas, ninguém queria mais estudar para beneficiar o resto da turma. Portanto, todos os alunos chumbaram... Para sua total surpresa.
O professor explicou, então, que a experiência socialista tinha falhado porque ela era baseada no menor esforço possível da parte de seus participantes. Preguiça e mágoas foi o seu resultado. Sempre haveria fracasso na situação a partir da qual a experiência tinha começado.
"Quando a recompensa é grande", disse, o professor, "o esforço pelo sucesso é grande, pelo menos para alguns de nós. Mas quando o governo elimina todas as recompensas ao tirar coisas dos outros sem o seu consentimento para dar a outros que não batalharam por elas, então o fracasso é inevitável".
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MAIS CLARO QUE ISTO NÃO É POSSÍVEL
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O pensamento abaixo foi escrito em 1931.
"É impossível levar o pobre à prosperidade através de legislações que punem os ricos pela prosperidade. Por cada pessoa que recebe se trabalhar, outra pessoa deve trabalhar sem receber. O governo não pode dar a alguém aquilo que não tira de outro alguém. Quando metade da população tem a ideia de que não precisa de trabalhar, pois a outra metade da população irá sustentá-la, e quando esta outra metade entende que não vale mais a pena trabalhar para sustentar a primeira metade, então chegamos ao começo do fim de uma nação. É impossível multiplicar riqueza dividindo-a."
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Adrian Rogers, 1931

segunda-feira, 12 de abril de 2010

#051 A malta ainda pensa

Às vezes pensamos que a malta não pensa - mas pensa! E pensa mais do que nós pensamos que eles pensam. Aqui o «eles» são os tipos da função pública. Que tem boa gente, infelizmente misturada com gente menos sã.
A notícia vem aqui, no sítio do Governo na internet mas não deixa de ser meritória por isso.
"Os funcionários das Administrações Central, Regional e Local apresentaram 600 ideias para simplificar os serviços públicos, na 2.ª edição do Prémio Ideia Simplex. Este número superou em 92% o da edição de 2009, que já tinha sido um sucesso, com 313 sugestões. A Ideia Simplex tem como objectivo estimular a capacidade de inovação e envolver todos aqueles que diariamente asseguram os serviços públicos na construção de uma Administração pública moderna, com serviços mais simples, mais rápidos e mais próximos dos cidadãos e empresas".
Também se pode ler noutro local oficial do Governo que "o Júri do Prémio Ideia Simplex vai agora avaliar as candidaturas e escolher as três melhores ideias Simplex. O Júri elaborará, ainda, uma lista de ideias finalistas que será submetida a votação pública em www.simplex.pt, durante a segunda quinzena de Abril. O autor da ideia mais votada pelos cidadãos vencerá o prémio «À Medida do Cidadão».".

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

#050 Um Dia pela Vida

Hoje, UM DIA PELA VIDA. Mais uma iniciativa. Vamos, num evento simbólico, acender uma luz pela vida, no Jardim da República, esta noite, pelas 21h e assim construir uma corrente de luz. A presença de todos é fundamental para o sucesso desta iniciativa. Adquira o talão para a sua vela, junto dos elementos da Equipa Alerta Laranja. A troca dos talões pelas velas, será feita esta noite, no Jardim da República.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

#049 Sãos e doentes

A propósito dos recentes episódios Face Oculta, da disputa interna no PSD, das atitudes sobre as alegadas intromissões do Primeiro Ministro da esfera de liberdades de imprensa, socorro-me de duas frases recolhidas no livro "Auto-retrato do escritor enquanto corredor de fundo", do japonês Haruki Murakami:
Frase 1: "Para se confrontar com qualquer coisa verdadeiramente insana, uma pessoa deve ser tão saudável quanto possível".
Frase 2: "O são e o doente não são necessariamente antagónicos, nem se encontram em lados opostos do espectro, antes de complementam e, nalguns casos, chegam mesmo a aliar-se naturalmente".
Não faço, naturalmente, mais comentários porque deixo-os à liberdade criadora da mente de cada qual.
Bom fim de semana, com tanto para ler...

#048 PSD e algo mais...

Pedro Passos Coelho?
Paulo Rangel?
José Pedro Aguiar Branco (sem hífen)?
Castanheira Barros?
Marcelo Rebelo de Sousa?
António Capucho?
Uns já se assumiram, outros são fantasmas, outros são pouco mais que desejos espúrios de saudosistas...
Os dados estão lançados.
PPC parece levar vantagem mas o PSD é pródigo em surpresas. Aguardemos.
Por outro lado, Fernando Nobre, da AMI, é mais um que surpreende o PS. O espaço para um candidato socialistas reduz-se. Cavaco agradece mas ainda é cedo para encomendar o fogo de artifício.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

#047 Eu e o meu eu!

É Sábado, manhã cedo. Estamos no início de Fevereiro e está ainda frio.
Recordo-me que desde Sábado passado corri muitos quilómetros: 8 no Sábado, 14 no Domingo, 7 na Segunda, 8 na Terça, 8 na Quarta, parei na Quinta e 11 na Sexta. Ao todo perfaz 56 quilómetros.
Correr não é, para mim, um mero acto físico.
Há quase um ano e meio decidi modificar os meus hábitos alimentares e dedicar-me mais a fazer do meu corpo uma ferramenta que possa contribuir para um envelhecimento com dignidade.
Cheguei àquela fase da vida em que o declínio do vigor físico se vai começar a fazer sentir. Primeiro, sem que eu note nada de especial. Apenas coisas pontuais. Depois, certamente, com mais provas e evidências que ire notar.
Corria 200 metros e ficava para morrer com falta de ar e com o batimento cardíaco. Também comia de tudo um pouco e bebia bebidas destiladas. E fumava cigarrilha e charuto, após longas, prolongadas e hiper-calóricas refeições. E havia as sobremesas, essas coisas que inventámos como se o nosso corpo precisasse de mais açucar do que aquele que há fruta e nos alimentos.
Comecei por correr, andar de bicicleta, jogar futebol novamente com um grupo de amigos, às segundas-feiras, no pavilhão da Escola D. Miguel de Almeida.
Confesso que andar de bicicleta não me entusiasma, talvez por a minha ser pesada e não me sentir preparado psiquicamente para despender muito dinheiro por uma mais leve.
O futebol, este ano lectivo, com a escola em obras, ficou sem efeito.
Sobrou a corrida. Primeiro ao ar livre, depois numa passadeira, em casa.
Comprei também uns aparelhos de halteres. Passei a ir, de vez em quando ao ginásio, aprender novos exercícios que possa fazer em casa, corrigir outros que possa estar a praticar e sejam inadequados ou os esteja a executar de modo deficiente.
Ao mesmo tempo, mudei de hábitos alimentares. As carnes vermelhas saíram da minha dieta alimentar, por regra. Muito esporadicamente como porco ou vaca. Passei a comer frango, peru, coelho, e peixes como o salmão, o atum, pescada e ainda outros bichos do mar como os camarões, o polvo ou os chocos.
Acompanho com dieta variada de massas com legumes ou só legumes, muito diferenciados, seja em salada ou estufados. Aí não sou esquisito: couve, cenoura, tomate, alface, rúcula, feijão verde, courgette, beringela, cogumelos (muitos e de muitas variedades).
Faço isto diariamente. Só bebo água fora das refeições e o pão faz parte do pequeno almoço, assim como os cereais da última e ligeira refeição, antes de me deitar.
Batata, arroz e açucares estão banidos por mim, em regra. Fruta e sopa é obrigatório.
À noite, muitas vezes, acompanho o jantar com um copo de vinho tinto.
A verdade é que perdi mais e 20 quilos e ganhei uma nova força física e psíquica. Até a minha acuidade visual melhorou. Usava óculos e na última consulta a que fui, ao oftalmologista, o mesmo disse-me que não preciso de usar óculos. O mesmo que os havia prescrito anos antes e que já me reforçara a graduação.
Tenho força e vigor. Acordo sempre com boa disposição. Subo e desço escadas sem me cansar e tenho uma energia no trabalho que tinha perdido.
Tenho esperança de que esta nova forma de encarar a vida, mais saudável, possa prolongar o momento do declínio do corpo e da mente. Tenho vontade de viver! Não quero ter os mesmos problemas que os meus antecessores, de ambos os lados (materno e paterno) tiveram, sobretudo os homens, de uma vida curta e sem o prazer de usufruir a sua velhice com dignidade.
Estabilizei agora o meu peso: 73-74 quilos. Raramente chego aos 75 mas não fico alarmado com isso nem vivo em função da balança. Há mais de 15 dias que não me peso mas se pesar mais, sei que será por massa muscular e não por gordura acumulada.
É evidente que há aqui mais do que mera questão física.
Há o prazer de gostar de me ver mais bem cuidado e com melhor apresentação.
Há o prazer de saber que não me canso como cansava.
Há o prazer de comprovar que tenho mais energia para trabalhar e mais poder de concentração para fazer as coisas bem feitas, durante mais tempo, sem evidenciar a fadiga que antes evidenciava.
Há a sensação de bem-estar que o exercício físico provoca.
Há ainda a forma mais lúdica como encaro a vida. A forma como hoje me preparo para ir assistir a um concerto, a um bailado, a uma peça de teatro, a uma sessão de cinema ou a visitar um museu, coisas que não fazia por serem um fardo.
Há a noção de que a escrita voltou a fazer parte dos meus objectivos de vida - e voltei a escrever para mim, pensamentos e histórias, narrativas e ficções, testemunhos de alma e apontamentos de factos da vida.
Afastei-me da vida política activa. Colaboro num programa de rádio. Ainda penso em dar algum tempo à arte de Talma, proporcionar-me mais espaço de reflexão e encontro de um caminho sereno e lúcido, para poder deixar-me envelhecer com dignidade, compreendendo as limitações que a força do tempo irá trazer. Não se ganha nunca a luta contra o tempo. Nem tem de ser empreendida nenhuma luta contra o tempo. Eu procuro fazer o meu trabalho de me preparar para a intervenção que o tempo terá no meu eu. Sei que o tempo, desde que é tempo, decidiu andar sempre para a frente. E eu aplaudo a forma coerente como esse, ao menos e ao contrário dos políticos, não muda nunca a direcção, nem o seu destino, nem o ritmo a que pula e pula e pula, sempre no mesmo sentido.
É neste ponto que me encontro e é esta a reflexão que faço, ao correr da pena, a um Sábado matinal de Fevereiro de 2010.
Xiiiiiii! 2010?
Quando eu era miúdo pensava que, se chegasse ao ano 2000, faria 32 anos e que seria já velho. Agora que, dez anos depois, vou a caminho dos 42, sinto-me novo e espero "dobrar" ainda algumas décadas que o tempo - sempre o tempo! - fixa no calendário.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

#046 O vazio

O vazio é uma gorda sensação de estarmos possuídos por nada, sentindo que nos falta tudo.
É!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

#045 O regresso aos campos

O que vou dizer pode ser fracturante e até mal entendido.
Vamos por partes.
O interior está despovoado, certo?
Todos desejaríamos um interior do país com mais pessoas, certo?
Não se conseguiu ainda encontrar a fórmula para que isso possa acontecer de modo natural, certo?
As florestas e matas estão ao abandono e muitos dos proprietários não estão nada interessados em cuidar das mesmas, antes contribuindo para aumentar os riscos de incêndio, certo?
O país afunda-se na necessidade de ser cada vez mais social e mais protector face aos que menos têm, certo?
Tudo isso tem custos financeiros e económicos que se projectam para o futuro a muito longo prazo, certo?
Se tudo isto for certo, porque não adoptar uma política de proporcionar aos que são apoiados pelo Estado, famílias inteiras que vivem do Estado Social, a oportunidade de serem 'donos' do seu pedaço de terra no interior?
Se calhar é tempo de mexer nas leis da propriedade fundiária e redistribuir as mesmas, as que estiverem manifestamente abandonadas, junto daqueles que, ainda que continuando a receber transitoriamente apoios do Estado se dediquem a recuperar o campo, a cuidar das matas, a efectuarem investimentos na produção de hortículas, de fruta, diminuindo a nossa dependência em produtos do sector primário face ao exterior?
Mas não. Não é isso que acontece. O Estado dá e as pessoas escolhem ser apoiadas preferindo, ainda assim pouco ou nada fazerem para mudarem a sua condição de vida.
Não falo em coagir, falo em propor acordos, falo em convidar pessoas que são úteis, que estão saudáveis, que apenas a sorte não escolheu para orientarem a vida, para que possam regressar ao interior, em condições de comodato de terreno a longo prazo, depois de a posse de algumas propriedades ser retirada a proprietários negligentes ou que, por razão económica, não possam mais continuar a manter em bom estado de limpeza e uso as suas propriedades, integrando as mesmas no património do Estado.
O Estado seria o dono, os beneficiários da solidariedade pública seriam os visados com esta medida e teriam a posse do terreno, em comodato, a 20, 30, 40 ou mesmo 50 anos.
O país ganharia produção agrícola e os apoios dos fundos comunitários chegariam ao seu destino, modernizado e equipando novas estruturas de produção.
O sector cooperativo ganharia novo fôlego.
As escolas abandonadas ganhariam novos alunos.
As aldeias desertas aumentariam a sua população.
A floresta estaria melhor cuidada e os riscos de incêndio seriam menores.
Os aderentes poderiam até ter os seus apoios sociais majorados.
Mas, para isso, urge fazer uma reforma da lei da propriedade privada. Esta é a minha visão à esquerda, se quiserem. Mas não acho mesmo nada que se deva manter tudo como está. Porque já se provou que os resultados são maus, catastróficos. O interior desaparece e nas grandes concentrações urbanas prosperam caldos de cultura muito diferenciados, originando guetos, crise social, conflitos, violência, marginalidade e a instauração de um ambiente terceiro-mundista, lado a lado com a opulência e a ostentação dos grandes loteamentos e condomínios.
Certezas não tenho, nem sequer a de ter alguma ponta de razão. Mas aqui deixo uma das possíveis leituras e uma das possíveis soluções.

domingo, 17 de janeiro de 2010

#44 A meio de Janeiro

Manuel Alegre assume-se disponível para avançar contra Cavaco. Este, por sua vez, faz germinar mais um tabu. Ainda é cedo, talvez, mas o ano de 2009 correu mal ao Presidente e houve mesmo quem vaticinasse que não seria recandidato.
Pelo distrito de Santarém, entre um PS que se afunda - nem me recordo agora quem o lidera, veja-se! - e um PSD que nada acrescenta à (des)ilusão política, sobra espaço para que imperem alguns populismos.
Ontem fui sondado para integrar uma lista de delegados de Abrantes à Assembleia Distrital do PSD. Fui agradecido mas informei que a minha indisponibilidade se mantém. Não tenho condições para fazer um bom mandato, não pretendo uma lista de falsos consensos e jamais integraria a lista lado a lado com algumas pessoas que não me quiseram bem no passado. Fico melhor de fora, a observar.
Nos Centros de Emprego e de Formação Profissional de Tomar houve mudanças. Lurdes Botas, ex-Presidente da Junta de Freguesia de S. Miguel do Rio Torto, ex-membro da Assembleia Municipal, eleita sempre pelo Partido Socialista, dirige agora a casa do (des)emprego de Tomar. Boa sorte. A vida é assim mesmo. Parece que a decisão apanhou muita gente de surpresa, até mesmo dirigentes distritais do PS.
Por Abrantes tivemos a apresentação do programa cultural para 2010. Acho estranho ser possível programar todo o ano no seu início: muita coisa será mudada ao longo dos meses. Mas o formato foi agradável e a banda de jazz foi interessante.
Já agora, recomendo uma imperial no bar Aquapolis, recentemente remodelado. Na cidade não conheço cerveja que saiba melhor, neste momento. O espaço é agradável, a gerência afável, os colaboradores simpáticos e disponíveis. Ainda não refeiçoei por lá mas não deve tardar. A salada de polvo e as moelas, perto das 2 da manhã, são um consolo ao estômago e à alma.
Entretanto, na Galeria Municipal de Arte está a exposição sobre a obra de Gonçalo Byrne. Boa exposição, inaugurado com o próprio, na presente de muita gente, nomeadamente João Rodeia, Carrilho da Graça e o escultor Charters d'Almeida. Foi um momento agradável na tarde de 6ª feira.
Norberto Bernardes assumiu as suas funções como Provedor Municipal do Cidadão, no meio de algum ruído de fundo provocado pelos eleitos do PSD. Recordo-me de ter sido eu e o José Moreno quem o propôs no mandato anterior. Como os tempos mudam, mudas os protagonistas e a vontade das organizações parece que muda também. Felicidades, major-general!
Por falar nisso, alguém sabe onde anda o PSD? Não os vejo em lado nenhum... bem sei que a campanha eleitoral já terminou mas estranho a ausência na vida em sociedade, algo de que fui tantas vezes acusado no passado pelos agora dirigentes e eleitos locais. A Presidente da concelhia bem faz o seu esforço e sei que ela é esforçada mas é difícil mesmo modificar comportamentos inculcados no espírito dos que têm dificuldade em sair da mediania - alguns não passam mesmo da mediocridade, tal como acontece em todas as organizações. Quem perde é a democracia. Quem ganha é, como sempre, quem usa o poder.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

#043 Breve reflexão de Ano Novo

«Ano Novo, Vida Nova!», diz o povo, desde que me recordo de ter memória. Atingimos mais um patamar, a "chapa 10".
Há tanta coisa que desejo para este ano. Mas não vou começar aqui a desfiar a lista, porque pareceria imodesto.
Prefiro antes esperar que muitos dos desejos, que não dependem todos da minha exclusiva vontade, se possam realizar.
Entre muitos, não posso deixar de reclamar saúde. Saúde é um bem essencial, que valorizamos sobretudo quando a mesma nos falha ou falha a quem nos está próximo. Mas Saúde é, também, o motivo da minha actividade profissional. Existo hoje, enquanto profissional, porque a minnha vida é organizar serviços que se destinam a promover a saúde, a prevenir e a tratar a doença. Não deixa de ser um paradoxo reclamar saúde para mim e para os meus e, ao mesmo tempo, desejar que seja na saúde, nos serviços que existem para, muitas vezes, fazer diminuir o sofrimento daqueles que não têm saúde, que eu me possa continuar a realizar como pessoa e como profissional.
O mundo é, todo ele, como sabemos, uma enorme teia ou mesmo, se quisermos, várias teias complexas e difusas, de redes sociais que se entrecruzam e de interesses legítimos, que se tocam e se juntam e se separam e se voltam novamente a tocar. Nada é mais linear, que me recorde, excepto o tempo. Esse sim, segue o ser percurso impassível aos apelos de quem lhe pede tempo para se organizar, para se preparar para os tempos que aí vêm. Tudo resto são curvas, segmentos de recta, planos oblíquos, redes tridimensionais, planos axiométricos de formas geométricas estranhas e indetectáveis. Quando menos esperamos estamos em contacto com realidades, mundos e pessoas que nem sabíamos que estavam tão próximas da nossa realidade e, por incrível que pareça, aqueles que pensamos próximos de nós estão, afinal, algo distantes.
A idade traz-nos sabedoria, se a procurarmos; a vida de estudo traz-nos conhecimento, se por isso lutarmos. O essencial é a correcta combinação destes dois ingredientes. Espero que o ano de 2010 me traga saúde e, já agora, uma justa combinação destes elementos porque, com eles, com o seu relativo domínio, julgo que consegurei lutar para obter e manter o resto dos votos que formulei e que, afinal, são até simples e serão, em mais de 90% (julgo) os mesmos que todos nós pedimos em cada ano que se inicia.
Vamos começar bem, vamos começar com força, energia e atitude, apesar do estado de desgraça que, até com alguma graça, alguns dirigentes conseguiram atribuir ao Portugal que nos é apresentado no cardápio.