segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

#045 O regresso aos campos

O que vou dizer pode ser fracturante e até mal entendido.
Vamos por partes.
O interior está despovoado, certo?
Todos desejaríamos um interior do país com mais pessoas, certo?
Não se conseguiu ainda encontrar a fórmula para que isso possa acontecer de modo natural, certo?
As florestas e matas estão ao abandono e muitos dos proprietários não estão nada interessados em cuidar das mesmas, antes contribuindo para aumentar os riscos de incêndio, certo?
O país afunda-se na necessidade de ser cada vez mais social e mais protector face aos que menos têm, certo?
Tudo isso tem custos financeiros e económicos que se projectam para o futuro a muito longo prazo, certo?
Se tudo isto for certo, porque não adoptar uma política de proporcionar aos que são apoiados pelo Estado, famílias inteiras que vivem do Estado Social, a oportunidade de serem 'donos' do seu pedaço de terra no interior?
Se calhar é tempo de mexer nas leis da propriedade fundiária e redistribuir as mesmas, as que estiverem manifestamente abandonadas, junto daqueles que, ainda que continuando a receber transitoriamente apoios do Estado se dediquem a recuperar o campo, a cuidar das matas, a efectuarem investimentos na produção de hortículas, de fruta, diminuindo a nossa dependência em produtos do sector primário face ao exterior?
Mas não. Não é isso que acontece. O Estado dá e as pessoas escolhem ser apoiadas preferindo, ainda assim pouco ou nada fazerem para mudarem a sua condição de vida.
Não falo em coagir, falo em propor acordos, falo em convidar pessoas que são úteis, que estão saudáveis, que apenas a sorte não escolheu para orientarem a vida, para que possam regressar ao interior, em condições de comodato de terreno a longo prazo, depois de a posse de algumas propriedades ser retirada a proprietários negligentes ou que, por razão económica, não possam mais continuar a manter em bom estado de limpeza e uso as suas propriedades, integrando as mesmas no património do Estado.
O Estado seria o dono, os beneficiários da solidariedade pública seriam os visados com esta medida e teriam a posse do terreno, em comodato, a 20, 30, 40 ou mesmo 50 anos.
O país ganharia produção agrícola e os apoios dos fundos comunitários chegariam ao seu destino, modernizado e equipando novas estruturas de produção.
O sector cooperativo ganharia novo fôlego.
As escolas abandonadas ganhariam novos alunos.
As aldeias desertas aumentariam a sua população.
A floresta estaria melhor cuidada e os riscos de incêndio seriam menores.
Os aderentes poderiam até ter os seus apoios sociais majorados.
Mas, para isso, urge fazer uma reforma da lei da propriedade privada. Esta é a minha visão à esquerda, se quiserem. Mas não acho mesmo nada que se deva manter tudo como está. Porque já se provou que os resultados são maus, catastróficos. O interior desaparece e nas grandes concentrações urbanas prosperam caldos de cultura muito diferenciados, originando guetos, crise social, conflitos, violência, marginalidade e a instauração de um ambiente terceiro-mundista, lado a lado com a opulência e a ostentação dos grandes loteamentos e condomínios.
Certezas não tenho, nem sequer a de ter alguma ponta de razão. Mas aqui deixo uma das possíveis leituras e uma das possíveis soluções.

domingo, 17 de janeiro de 2010

#44 A meio de Janeiro

Manuel Alegre assume-se disponível para avançar contra Cavaco. Este, por sua vez, faz germinar mais um tabu. Ainda é cedo, talvez, mas o ano de 2009 correu mal ao Presidente e houve mesmo quem vaticinasse que não seria recandidato.
Pelo distrito de Santarém, entre um PS que se afunda - nem me recordo agora quem o lidera, veja-se! - e um PSD que nada acrescenta à (des)ilusão política, sobra espaço para que imperem alguns populismos.
Ontem fui sondado para integrar uma lista de delegados de Abrantes à Assembleia Distrital do PSD. Fui agradecido mas informei que a minha indisponibilidade se mantém. Não tenho condições para fazer um bom mandato, não pretendo uma lista de falsos consensos e jamais integraria a lista lado a lado com algumas pessoas que não me quiseram bem no passado. Fico melhor de fora, a observar.
Nos Centros de Emprego e de Formação Profissional de Tomar houve mudanças. Lurdes Botas, ex-Presidente da Junta de Freguesia de S. Miguel do Rio Torto, ex-membro da Assembleia Municipal, eleita sempre pelo Partido Socialista, dirige agora a casa do (des)emprego de Tomar. Boa sorte. A vida é assim mesmo. Parece que a decisão apanhou muita gente de surpresa, até mesmo dirigentes distritais do PS.
Por Abrantes tivemos a apresentação do programa cultural para 2010. Acho estranho ser possível programar todo o ano no seu início: muita coisa será mudada ao longo dos meses. Mas o formato foi agradável e a banda de jazz foi interessante.
Já agora, recomendo uma imperial no bar Aquapolis, recentemente remodelado. Na cidade não conheço cerveja que saiba melhor, neste momento. O espaço é agradável, a gerência afável, os colaboradores simpáticos e disponíveis. Ainda não refeiçoei por lá mas não deve tardar. A salada de polvo e as moelas, perto das 2 da manhã, são um consolo ao estômago e à alma.
Entretanto, na Galeria Municipal de Arte está a exposição sobre a obra de Gonçalo Byrne. Boa exposição, inaugurado com o próprio, na presente de muita gente, nomeadamente João Rodeia, Carrilho da Graça e o escultor Charters d'Almeida. Foi um momento agradável na tarde de 6ª feira.
Norberto Bernardes assumiu as suas funções como Provedor Municipal do Cidadão, no meio de algum ruído de fundo provocado pelos eleitos do PSD. Recordo-me de ter sido eu e o José Moreno quem o propôs no mandato anterior. Como os tempos mudam, mudas os protagonistas e a vontade das organizações parece que muda também. Felicidades, major-general!
Por falar nisso, alguém sabe onde anda o PSD? Não os vejo em lado nenhum... bem sei que a campanha eleitoral já terminou mas estranho a ausência na vida em sociedade, algo de que fui tantas vezes acusado no passado pelos agora dirigentes e eleitos locais. A Presidente da concelhia bem faz o seu esforço e sei que ela é esforçada mas é difícil mesmo modificar comportamentos inculcados no espírito dos que têm dificuldade em sair da mediania - alguns não passam mesmo da mediocridade, tal como acontece em todas as organizações. Quem perde é a democracia. Quem ganha é, como sempre, quem usa o poder.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

#043 Breve reflexão de Ano Novo

«Ano Novo, Vida Nova!», diz o povo, desde que me recordo de ter memória. Atingimos mais um patamar, a "chapa 10".
Há tanta coisa que desejo para este ano. Mas não vou começar aqui a desfiar a lista, porque pareceria imodesto.
Prefiro antes esperar que muitos dos desejos, que não dependem todos da minha exclusiva vontade, se possam realizar.
Entre muitos, não posso deixar de reclamar saúde. Saúde é um bem essencial, que valorizamos sobretudo quando a mesma nos falha ou falha a quem nos está próximo. Mas Saúde é, também, o motivo da minha actividade profissional. Existo hoje, enquanto profissional, porque a minnha vida é organizar serviços que se destinam a promover a saúde, a prevenir e a tratar a doença. Não deixa de ser um paradoxo reclamar saúde para mim e para os meus e, ao mesmo tempo, desejar que seja na saúde, nos serviços que existem para, muitas vezes, fazer diminuir o sofrimento daqueles que não têm saúde, que eu me possa continuar a realizar como pessoa e como profissional.
O mundo é, todo ele, como sabemos, uma enorme teia ou mesmo, se quisermos, várias teias complexas e difusas, de redes sociais que se entrecruzam e de interesses legítimos, que se tocam e se juntam e se separam e se voltam novamente a tocar. Nada é mais linear, que me recorde, excepto o tempo. Esse sim, segue o ser percurso impassível aos apelos de quem lhe pede tempo para se organizar, para se preparar para os tempos que aí vêm. Tudo resto são curvas, segmentos de recta, planos oblíquos, redes tridimensionais, planos axiométricos de formas geométricas estranhas e indetectáveis. Quando menos esperamos estamos em contacto com realidades, mundos e pessoas que nem sabíamos que estavam tão próximas da nossa realidade e, por incrível que pareça, aqueles que pensamos próximos de nós estão, afinal, algo distantes.
A idade traz-nos sabedoria, se a procurarmos; a vida de estudo traz-nos conhecimento, se por isso lutarmos. O essencial é a correcta combinação destes dois ingredientes. Espero que o ano de 2010 me traga saúde e, já agora, uma justa combinação destes elementos porque, com eles, com o seu relativo domínio, julgo que consegurei lutar para obter e manter o resto dos votos que formulei e que, afinal, são até simples e serão, em mais de 90% (julgo) os mesmos que todos nós pedimos em cada ano que se inicia.
Vamos começar bem, vamos começar com força, energia e atitude, apesar do estado de desgraça que, até com alguma graça, alguns dirigentes conseguiram atribuir ao Portugal que nos é apresentado no cardápio.