A vida vai seguindo o seu percurso e, sempre que páro para pensar, constato que o tempo que foi já não é e que a cada segundo, a cada fracção desse tempo, ele é mais escasso, menos abundante para a minha vida.De pouco vale, assim, alimentar inimizades, sustentar querelas, abastecer situações de afastamento por castigo sobre quem, no passado, alguma vez me causou dor e sofrimento.Jamais esquecerei o bom e o mau que vivi mas já não vivo para cobrar nem para ajustar contas com ninguém.Continuo, porém, fiel ao modo como sempre me conheci: emotivo, por vezes fleumático, outras vezes romântico, outras ainda mais racional, intuitivo, cognitivo, cerebral até.Já não levo tão a peito que as pessoas se revelem como são: frágeis, por vezes fúteis, trocando valores e convicções como se artigos de mercearia ou commodities cotadas em Chicago se tratasse.Quem esteve próximo de mim pode partir para longe? Pode.Quem esteve longe de mim pode sentir-se agora mais perto? Pode.E entre essas pessoas, pode haver distância e proximidade? Pode.Não é, pois, verdade que amigos dos meus amigos, meus amigos são. Nem é verdade que os meus adversários sejam adversários dos meus amigos.
A vida é assim mesmo: uma complexa teia de relações humanas, sustentadas em afectos voláteis, raramente consolidados e nunca perpétuos.
E a minha vida profissional vai indo.
E a saída da função de vereador da Câmara Municipal de Abrantes fez-se em silêncio, como eu queria.
E a preparação de eleições coloca os partidos e os movimentos independentes de cidadãos em movimento.
E mesmo por aí já não quero coleccionar inimizades por trocas de afectos.
Já tive a minha dose de desilusão em 2005. E porque agora me iludo menos acredito que não ficarei desiludido com nada nem com ninguém. Nas autárquicas, nas legislativas, nas europeias, agora e depois de agora. Sim, porque antevejo mudanças sociais em Portugal depois deste ano de 2009.