terça-feira, 20 de outubro de 2020

#086 É o amor, é o amor.

 Aqui sentado no meu gabinete, de volta das minhas prioridades profissionais, entre prazos e urgências, dou por mim a pensar. Agradeço este emprego, os meus filhos maravilhosos, a fantástica companhia de uma pessoa que me acompanha há mais de uma década e com que sempre sonhei.

Hoje escrevo para ti, diretamente para ti. E para nós, no prolongamento da tua pessoa que se funde na minha e na minha, que se dissolve nas gotas de suor que emergem da nossa união.

Imagino a nossa vida depois "disto".

Mas o que é “isto”? Esta vida, estas opções, estas responsabilidades, estes compromissos: passado, família, mãe, empresa, rotinas.

Hoje estou melancólico, naqueles dias de saudável e doce melancolia, aqueles em que a dose é a suficiente para parar e pensar que também não é esta a vida que quero por muito mais tempo. Sinto cansaço e desgaste e sinto os anos a passarem vertiginosamente, roubando-me e roubando-nos espaço para viver ainda com mais intensidade o nosso amor cúmplice e para crescermos interiormente e como casal.

Mas preciso de mais um tempo, mais um esforço, mais um sacrifico neste momento que já não preenche a totalidade da minha existência. Um tempo que, ainda assim, não me impeça de sonhar, de sorrir, de poder ainda ir a tempo ter vida além desta vida que me aprisiona aqui e que nos mantém cativos neste lugar que não, nunca foi e nunca será, o que possamos chamar de "nossa casa".

Hoje queria estar fechado nessa "nossa casa" abraçadinho a ti, no sofá, entre mantas, na cama, a trocar beijos carícias, a amar. A viver! Viver é isso, não é isto. Desfrutar da casa com que tanto sonhaste e eu, sem nunca fraquezar ou hesitar - e disso me orgulho - estou a ajudar a fazer acontecer. Apenas porque sim, porque faz sentido, porque faz parte da tal outra vida que persigo e perseguimos.

Porque te amo.

Porque estou triste pela ausência forçada de afetos a que nos auto-submetemos, porque o tempo convida a recolhimento, e porque sou assim, este idiota sem remédio que tem a mania que pensa e escreve coisas que alguém entende.

Quem já amou sem reservas e soube despir-se de receios e temeridades - algo difícil nos dias que correm - sabe do que falo e sabo o que escrevo.

Amo-te muito!