domingo, 3 de janeiro de 2021

#088 Saudade

Saudade...

Fruto do amor ausente, qualquer forma de amor e de amar. Um vazio que enche de nada o peito apertado pela ausência de quem nos faz falta. Esta sensação que também promove a proximidade desejada mas, não raras vezes, demorada - e até ansiada.

O sentimento. O vazio. A perda relativa. A distância. A impotência.

E, contudo, num processo criativo e imaginário, surge a proximidade sentida, o abraço torna-se um desejo quase real, surgem as lágrimas piedosas, suplicando os beijos e abraços adiados do "até breve" que pode ou não tardar, sente-se o instante tornado infinito, e inventa-se a conversa adiada olhos nos olhos até de madrugada, o demorarmo-nos na presença do outro antes que tudo acabe, a permanência, a pertença, a existência, a essência.

Um laço fundado nos afetos pode ser mais forte que o aço.

Isso é tão verdade nos espaços filiais, entre pais e filhos ou entre avós e netos.

A saudade não tem substituto nem concorrente. Nada substitui a saudade, aquele perto no peito cheio de vontade, aquele impulso para chorar com o sonho do reencontro, aquela vontade de derramar lágrimas de puro amor salgado na espera do doce novo momento juntos, aquela comoção que insuportavelmente nos faz suportar o adeus ou o até breve, a falta de ar que surge quando já mais nada existe para suspirar. Não há medicamento nem vacina eficazes para a saudade e nada pode ocupar o seu lugar.

Havemos de ter sempre saudades e havemos de saber chorar o vazio e a ausência. Porque isso nos conduz à certa esperança de que voltaremos a estar juntos, mais cedo do que tarde. Porque a saudade traduz o vínculo e o laço, que é mais forte que o aço.

Começa agora mais um período de grande saudade para mim e para nós. Volta depressa filho. Coração de pai (e mãe e avós e irmã) suspiram por ti, tanto quanto te apoiam e desejam sorte, sucesso, sensatez, sensibilidade e também saudade.

Que tenhas também sempre saudades nossas.

Porque a saudade faz parte de nós e ninguém a sente ou descreve como nós, neste sofrimento que confere misericórdia e compaixão.

A saudade dói mas é uma coisa boa.

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