sexta-feira, 8 de agosto de 2014

#065 Ministério da Saúde não ata nem desata nos cuidados de saúde primários e Tribunal de Contas arrasa reforma

Há muito que se sabe que este Ministro da Saúde percebe pouco de saúde. Há muito que se sabia que os resultados da própria organização dos cuidados de saúde primários iria piorar. E, a médio e longo prazos, com a sobrelevação dos critérios de custo e contenção de custos e pressão sobre os prescritores por motivos de custo, os resultados em saúde irão piorar (outcomes). - E até agora os outcomes não são critério de avaliação da qualidade organizacional e da qualidade dos cuidados prestados ao doente. - Quando se tenta que os custos sejam a variável mais importante e se ignora o valor terapêutico acrescentado ou a mais recente evidência científica, apenas por causa de custos, é a vida das pessoas que é afetada. - Quando se ignora que uma ou outra opção são mais custo-efetivas apenas porque se pretende poupar no curto prazo, estamos a determinar a degradação dos indicadores de qualidade de vida das populações, no curto, no médio e no longo prazo. - Quando se fixam indicadores de processo e de procedimento e não há muita atenção para os indicadores qualitiativos do estado de saúde das populações, há uma entorse sistémica que é necessário corrigir. - Há muita coisa a melhorar. Mas parece não haver nem vontade, nem lucidez, nem coragem para agir. - Há muito que se sabia da insatisfação de profissionais de saúde e até de dirigentes das organizações de saúde. Uns mais a medo, outros de modo mais declarado. Mas as pessoas sempre vão falando, desabafando, mostrando sinais de cansaço, sinais de fadiga com este clima de intimidação e degradaçãao dos pilares do SNS: acessibilidade, universalidade, gratuidade (lol). Nos cuidados de saúde primários, para além da insatisfação dos profissionais de saúde, há agora vários diretores executivos de ACES de saída para novos desafios profissionais e outros irão seguir o mesmo caminho em breve. - Há meses cortaram administrativamente o seu vencimento (cortando o subsídio de função, que vinha sendo pago desde 2009), depois de sucessivos cortes fiscais, tornando desinteressante a função nobre de dirigir organizações de cuidados de saúde primários. Ainda corrigiram o tiro mas as pessoas, incrédulas, já se tinham mexido para fugirem deste logro que é dirigir ACES quase sem autonomia, minguados que estão de competências, novamente atribuídas à macrocefalia das ARS's. - A reforma pretendida não só estacionou como até, em certos casos, andou para trás: ARS's poderosas, ACES que parecem sub-regiões, coexistência do modelo de ULS que nunca foi avaliado face ao modelo dos ACES, confusão entre integração de cuidados pela governação clínica e integração de gestão por uma única entidade administrativa. - Os equívocos são imensos mas a lucidez dos decisores é pequena. Poderia escrever muito sobre este assunto, de que tenho muito conhecimento de causa. - Poderia ajudar o meu partido, até. Mas se sempre prescindiram do meu contributo é porque de mim não precisam - sabem tudo e estão contentes com o que têm. E estamos bem assim, porque também não sinto saudades nenhumas das sedes partidárias. Mantenho a minha atividade cívica, contiuno a lidar com os cuidados de saúde primários (uma paixão para a vida, uma causa nobre de que me orgulho) e estou longe dos jogos e dos vícios do poder. - Agora foi o Tribunal de Contas quem veio meter "o dedo na ferida". E depois digam que eu sou um "velho do restelo" quando critico as políticas da política de saúde... Há muito que, aqui no Facebook, me insurjo contra algumas barbaridades. Mas parece que há quem assobie para o lado e continue a pensar que ignorar os problemas os soluciona, por passe de magia. Nem com números de ilusionismo. Para quem tiver curiosidade de ler as 644 páginas, fica aqui o link. - Fica também o link para uma das muitas notícias que, desde a noite de ontem, começaram a surgir nos media nacionais: Jornal ionline. - Ainda é possível inverter este desastre de desmantelamento do SNS. Ainda é possível... assim o Primeiro Ministro abra os olhos e decida que quer mesmo fazer alguma coisa para salvar o nosso SNS, mais do que debitar umas blagues da boca para fora, para entreter jornalistas. - Sim, porque do Ministro da Saúde já nem falo - o homem não tem jeito nenhum para a coisa mas julga-se a última coca-cola do deserto.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

#064 Reflexão simples e casual

As notícias dos jornais não deixam espaço para grandes dúvidas: o mundo está mais explosivo do que nunca, desde a Segunda Grande Guerra. À porta da Europa - e mesmo já dentro da "velha" Europa - os sinais de intolerância adensam-se e todos os ingredientes para que a utilização de armamento para dirimir conflitos se realize, estão agora em "bloco", do mesmo lado. É apenas uma questão de tempo: retrocesso nos valores civilizacionais, crise económica e de modelo de estado social, desempgrego, degradação de indicadores de conforto, seja na saúde, na protecção social, na educação, na cultura ou mesmo nos valores e no derrube de velhos estigmas comportamentais. Tudo parece estar em causa, novamente. Os americanos espiam o mundo inteiro e arvoram-se em polícias do mundo. Ninguém gosta de se sentir violado na sua intimidade mas a verdade´é que o mundo se colocou de cócoras perante a América sempre que um novo conflito emergia aqui ou ali, pedindo a sua rápida ajuda. O senhor Snowden é um exemplo de rompimento com esta América falsa e arrogante que nos observa e tutela. Os russos não são melhores. Os ingleses já têm drones. As armanas nucleares estão na posse de vários países e dentro de nada estarão nas mãos de terroristas e extremistas. As fés absolutas e os regimes políticos em que quem manda é qualquer déspota a mando de um suspoto Deus são um perigo. Os retrocessos de valores sobre conquistas efetuadas são preocupantes, como é o caso da anulação da IVG em Espanha. No Quénia conitnuam a imperar os rituas de excisão genital feminina, entre outros pormenores da mutilação sexual considerados banais. A intolerância étnica, o racismo, a xenofobia, a intolerância assumem contornos de extremismo há muito não vistos na Europa e no mundo mais ocidentalizado. As seitas fundamentalistas emergem e associado a estas a corrida a armamento e a poderio militar de ajuste de contas, vingança e auto-denominada justiça em nome de Deus, essa entidade abstracta e inexistente por detrás de quem se escondem ódios e rancores. Até a natureza está zangada: alterações climáticas, cataclismas, fenómenos extremos, morte e devastação. O mundo está, pois, podre. O mundo está efeverscente. O resultado só poderá ser uma catástrofe. Lamento ter de o escrever. Mas vem aí pancadaria e da grossa, dentro da velha Europa, envolvendo todo o Continente.