sexta-feira, 25 de setembro de 2009

#31 Radiografia, Japão e Eleições Legislativas

Uma crónica com três pontos.
1. O programa Radiografia, da Antena Livre, já está a ser um êxito. Pode não ser ouvido pela totalidade da população e não conheço o share mas os líderes de opinião ouvem e sabem o que lá é dito.
Na última 4ª feira, o programa, na sua segunda edição, entrou a 'esmiuçar' legislativas e autárquicas.
E logo no dia seguinte, para a Antena Livre, houve quem telefonasse a sugerir comentar ou questionar a legitimidade dos comentadores o poderem fazer.
Enfim, a tradicional asfixia democrática.
Sou um dos visados.
Vivo bem com isso.
Continuarei como até aqui, a dar a minha opinião e a minha visão, até que me digam que não faço falta naquela função.
Mas o espírito é bom e as coisas começam a aquecer.
2. Hitoyoshi. O Sr Tanaka e a sua comitiva geminaram a cidade e o concelho que representam com Abrantes. Valeu bem a pena a visita. Penso que a comunidade abrantina respondeu com dignidade e alegria, no seguimento da excelente recepção que nos proporcionaram a nós, em Outubro do ano passado, na nossa visita a Hitoyoshi.
Partiram de Abrantes esta tarde. Fica memória e a saudade. Houve visitas, houve convívio, houve solenidade, houve até diversão e fado, cantado por Joana Amendoeira, numa sala preparada em ambiente intimista. E houve até karaoke e um pézinho de dança.
Gostei de me associar ao evento, mesmo não sendo já vereador. Gostei de rever amigos - que já o são. Gostei das sementes que foram lançadas. E cá estarei para participar no acolhimento aos jovens japoneses, quando essa oportunidade chegar, se necessário for.
3. Domingo é dia de eleições legislativas. As sondagens são o que são e hoje conheceram-se várias que apontam para uma vitória do PS e do Engº José Sócrates. Várias razões existirão, se assim se confirmar. A estratégia da asfixia democrática revelou-se uma estratégia que não colhe na opinião pública? Ou o caso Lima-escutas foi outro auxiliar extra? Domingo tentaremos ver como todos os comentadores reagirão à verdade dos votos contados e como reflectem no comportamento dos partidos na formualação dos seus juízos e na preparação das respectivas leituras de dados.
Vamos lá votar. Ficar em casa é que não.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

#030 Campanhas por aí, por aqui e por além!

Segunda-feira, início de semana.
Faço o possível por me mentalizar que a semana vai decorrer bem. Olho para a agenda e vejo-a toda preenchida. Aqui e acolá um pequeno buraco. Reuniões, formações, decisões.
Disseram-me no supermercado, no passado fim de semana, que um blog de que muita gente fala dizia mal de mim. Dizia que sou um tachista e que vou ajustar contas com os meus inimigos de estimação no programa Radiografia.
Não sei, não conheço o espaço, não o visito e não irei visitar.
Enfim, o direito à asneira existe, é livre e não paga impostos. A pobre criatura que escreve tão infames linhas é um triste, mal-amado, porventura zangado com a vida e com o mundo. Seguramente, se tem filhos, será um mau exemplo porque as suas linhas transpiram rancor, ódio, vermelhidão no olhar. Tem bom remédio...
Segundo me contaram, ainda diz tal criatura que sou pago para fazer o programa como comentador. Nem comento... E atira com outras aleivosias próprias de uma demência não declarada e, porventura, não tratada.
Quero aqui deixar escrito, bem claro, que nada me move contra ninguém.
Que estou numa fase serena da vida.
Que estou bem comigo.
Que estou em paz com a vida e com o mundo.
Que optei livremente por uma nova etapa na vida.
Que trabalho para viver mas não vivo para trabalhar.
Que respeito as opiniões contrárias à minha, mesmo que erradas e fundadas em pressupostos de ironia, despeito e maledicência.
Mas não abdicarei nunca de dar a minha opinião sobre o mundo que me rodeia, as pessoas, os factos, as instituições. E isso irei, seguramente, fazer sempre que me for pedida a minha opinião.
Porém, sei que o mundo é uma pequena aldeia, cheia de interconectividades.
Todos os dias tenho provas disso e de encontros, desencontros, reencontros.
Acho mesmo que que até em Vanuatu, esse lugar distante que não conheço mas pretendo visitar, iria encontrar alguém que conhece alguém que eu conheço e a quem me ligam laços de amizade ou de mero relacionamento profissional ou mesmo circunstancial.
Por isso, de nada vale alimentar ódios estéreis ou vendettas balofas.
Mesmo os ignorantes, os incautos e os perversos têm direito a respirar o seu ar. E, um dia, espero e desejo, olharão para trás e verão o mal que fizeram e olharão para si e ajuizarão se estão em paz consigo e com o mundo, se têm gente a seu lado, se estão confiantes para viver o resto dos dias que lhes faltam, se sentem terem sido pessoas bondosas, altruístas, generosas, positivas, empreendedoras, que acrescentaram à sua comunidade algo de bom e de positivo.
Espero que a raiva, a intranquilidade, o ódio que sinto existir nessas pessoas as não impeça de fazerem um juízo criterioso e rigoroso da sua passagem pela vida.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

#029 Domingo no Codes


6 de Setembro de 2009, 15 horas e 14 minutos. Estou no Codes. Já reguei as árvores, depois de alguma dificuldade inicial em colocar a bomba de água a puxar água da ribeira, esta ribeira que se chama do Codes e dá nome ao lugar.

Estou sentado na beira do curso de água que está, aparentemente, estacionado. O Verão vai longo e o leito da ribeira espera pela chegada da época das chuvas, para voltar a ganhar fulgor.

Sopra uma brisa que se sente e ouve através do ondular das folhas dos choupos, salgueiros e sabugueiros. Aqui e ali pontuam umas pragas de canas e diversa vegetação autóctone. Tudo é verde por aqui, neste esconderijo onde me encontro. Olho para a esquerda e vejo a encosta que sobe até ao povoado e vislumbro algumas ruínas que me pertencem. Questiono-me sobre o dia em que irei começar a construir o meu abrigo no cimo desta majestática encosta. É aqui neste lugar que sonho poder passar alguns anos depois de o país me libertar do compromisso de ter de contribuir com o meu labor para a economia social. Espero que a mesma ainda chegue para usufruir com qualidade os dias que se seguirão a essa etapa, que ainda vem longe. Espero ter saúde e estar bem para poder contemplar esta natureza que me chegou às mãos e que hoje tenho obrigação de bem tratar.

Um dia quero poder passar finais de tarde na varanda ampla da casa do Codes, a ler, a escrever, a ouvir música, a pensar, a reflectir, a existir como ponto de apoio aos meus filhos e netos, neste espaço que é a mais forte ligação da família da minha mulher com as suas raízes, raízes que também são agora dos meus filhos e, por isso mesmo, minhas em defesa.

Gostaria de aqui reunir amigos, e lembranças, e fragmentos de uma vida cheia, e memórias felizes de tudo o que vi e ainda verei, do que senti e ainda sentirei, do que cheirei e dos aromas que ainda hei-de conhecer, dos afectos que criei e dos que ainda me falta conhecer, um espaço de libertação e vivência plena e serena após as agruras, as lágrimas, as emoções, as gargalhadas, tudo o que é espuma dos dias e mais do que isso.

Este é, definitivamente, «o local». É o meu Shangri-la, o local mais parecido com o paraíso na terra descrito nessa obra literária, de James Hilton, em 1925. Aqui o meu himalaia também existe e exibe uma respeitosa forma corcunda, que me leva a redobrar o respeito pela provecta idade que possui, há milhares ou milhões de anos aqui imponente, a marcar a paisagem.

Oiço o coaxar das rãs, o chilrear de pássaros ao longe, alguns bichos que cantam algo semelhante a um grilar; o calor suave e ameno deste princípio de Setembro que convida à reflexão intimista. Agora, sobrepõe-se aos demais sons a piadeira de um passarinho que, provavelmente, ainda não sabe voar e está no seu ninho aguardando pela comida que lhe será trazida pela mãe. Estará desprotegido, vulnerával, mas confiante na chegada de quem lhe dá guarida e reforce o sentimento de não estar sozinho no Mundo.

Olho para o lado e vejo o balde cheio de uvas e pêssegos que colhi. Já fui ver os medronheiros e vi como estão carregados de frutos, ainda não maduros. As oliveiras também levam boa carga. Na altura certa virei apanhar ambos os espécimes e das azeitonas sairá azeite que, espero, dê para um ano de consumo em casa. É o meu ouro líquido.

Penso que no próximo ano já terei ameixas e cerejas e amoras e nêsperas. Tenho de decidir o que farei com as laranjeiras que aqui não se dão bem. Talvez aposte em mais cerejeiras e, quem sabe, numa nogueira. Tentei plantar, já por duas vezes, um castanheiro mas, de ambas as situações, houve morte prematura.

Experimento ligar a net. Para minha surpresa, funciona.

A rede é fraca mas consigo. O local é ainda mais perfeito. Isolado do mundo mas à distância de um clique de qualquer lugar. Longe e perto; perto e longe.

Decido desligar a net. Quero preservar alguma ruralidade do momento e volto a escrever. São quase horas de ir de regresso a casa. Espero voltar em breve aqui ao paraíso na terra. Este ano foram poucas as viagens e este recanto, por motivos de falta de saúde familiar. Melhores dias virão, tenho esperança. E, aqui, virão sempre dias melhores porque este é o melhor espaço que conheço e onde mais espero vir a ser, serenamente, feliz.

Aqui, neste local onde espero que as árvores e os animais que ainda não tenho me devolvam a essência da dimensão telúrica da humanidade.

Aqui onde já sou feliz e onde me volatilizo com a natureza.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

#028 TVI

A decisão de retirar Manuela Moura Guedes dos écrãs será assim tão simples e linear como a colocam?
Penso que não. Creio que José Sócrates não se conseguirá desvincluar de uma leitura mundana de relação causa-efeito. Para o português médio, a coisa não é facilmente explicável.
Creio que o país fica mais pobre porque, de vez em quando, Manuela Moura Guedes tinha programas com muita audiência, fosse em directo, fosse depois através do Youtube. Quem não se recorda da sua discussão com Marinho Pinto? Hilariante...
Pela minha parte, que não vejo a TVI, não me faz grande falta. Agradeço mesmo que Manuela Moura Guedes seja retirada e que, no seu lugar, possam colocar uma carinha bonita... como ela também foi, nos idos de 80.
Porém, estão por explicar as interconectividades que conduziram a esta insólita decisão, ainda por cima no momento político de efeverescência eleitoral que estamos a viver.

#027 Radiografia

Foi com orgulho e honra que recebi o convite que a Antena Livre me endereçou para me juntar ao grupo de comentadores residentes do seu programa semanal "Radiografia".
É claro que me questionei: porquê eu?
Concluí que estas questões de ser ex-qualquer coisa têm vantagens.
O facto de eu estar fora da actividade política mais intensa, de ter auto-suspendido a minha participação cívica, que de conduz ao estado de adormecimento na militância activa, associado à convicção que tenho de, sem imodéstia nem vaidade, me sentir esclarecido e lúcido na leitura de acontecimentos na comunidade a que pertenço, terão sido motivos para que o Jerónimo Jorge me dirigisse um convite.
Aceitei e assumi esse compromisso, ao longo de algumas quartas-feiras que já se iniciaram há dois dias, em São Lourenço. Lá chegarão os dias frios e chuvosos em que não será muito agradável sair de casa para esta colaboração (por razões exclusivas de comodismo), mas o compromisso foi aceite e fico honrado com a escolha, esperando poder contribuir para, com serenidade, bom senso e fidelidade às percepções que o mundo exterior me suscita, ir dando sinais daquilo que é o meu universo de preocupações e leituras.
Gostei da primeira participação. Gostei muito. Senti-me à vontade e procurei não ser incontido. Tenho sempre o problema de parecer altivo, arrogante, distante nas primeiras abordagens que faço a situações e pessoas.
Sei, porque me conheço, que dou a imagem de pretender saber muito de coisa nenhuma sabendo. afinal, porventura, nada de quase tudo. Mas procuro cultivar-me e aprender de modo contínuo.
Hoje corre atrás de outros motivos de realização pessoal e profissional.
Mas, tal como ontem, sei que é na comunicação e partilha de experiências em rede que se faz e constrói o saber acumulado.
No final, cá estarei eu e outros, melhor que eu, para fazerem a radiografia à participação dos vários elementos neste "Radiografia", cujo regresso saúdo.
Vamos ter já muito que fazer, após as entrevistas aos candidatos a autarcas de Abrantes. Vai ser uma tarefa difícil ajuizar as prestações de cada partido/candidatura e de cada candidato. E ingrato, tendo eu sido candidato por duas vezes, em 2001 e em 2005.
Vou tentar ser isento e, acima de tudo, serei honesto e recto na forma como irei expressar aquilo que é a minha percepção - uma vez mais, é disso que se trata - sobre as sensações que me são provocadas pelo suave nagevar (ou não!) nas ondas das campanhas.