sábado, 7 de novembro de 2009

#038 Declaração de Vontade

Desde sempre tenho dedicado uma parte do meu tempo a pensar, a reflectir, a questionar-me perante os problemas do meu do mundo e, em geral, do Mundo.
Não sou um profundo conhecedor de nada nem especialista em análise social mas faço as minhas leituras. Gosto de ler e procurar interpretar comportamentos, individuais e colectivos e procuro aferir se existe nos mesmo um padrão comum, uma espécie de máximo divisor comum. Fico mesmo orgulhoso quando consigo perceber que um determinado pensamento, uma sensação, uma atitude é assumida por várias pessoas que não se conhecem e cujos mundos não se cruzam. É sinal de que algo concreto está a acontecer na comunidade.
Muitas vezes tenho procurado um novo caminho, um novo rumo, uma nova orientação na minha vida, na viagem que a parte que me é mais intangível tem de percorrer ao longo da existência física do meu corpo.
Procuro a elegância dos pensamentos, a jaquetância da escrita, a lucidez dos textos que produzo. Nem sempre tenho sucesso. Mas considero-me um afortunado por ter sido possível atingir um estadio de evolução que me permite, hoje, gostar do que escrevo, não só pela forma, como pelo conteúdo. Talvez seja o render de homenagem a Narciso, sentado na beira do seu lago, mas a verdade é que desenvolvi tal gosto pela escrita que não imagino o resto da minha existência apenas a produzir actos tecnocratas na minha profissão.
Sei que não tenho a qualidade dos grandes mestres no domínio da escrita penteada, elegante, profunda e perfumada de aromas mistos, ora densos e estruturados, ora leves e frescos, mas sei que posso sempre aprender mais, melhorar o nível qualitativo da estruturação das minhas palavras e juntar à minha existência uma nova dimensão, de fruição pela escrita.
Vários amigos têm vindo a desafiar-me a escrever com mais frequência; uns chamam-me pseudo-filósofo, outros entendem que sou um sonhador e "um lírico", pela forma como exteriorizo aquilo que penso e em que acredito. Outros vêem em mim um rastilho de tristeza e amargura que apenas precisa de um fósforo na ponta para se auto-consumir num som contínuo, consumindo-se a si mesmo até rebentar quando se esgota.
Não sei! Sinceramente, não me detenho por muito tempo a definir-me e a definir o que me caracteriza enquanto ser humano.
Apenas sei agora, de fonte segura e ideal bem consolidado, que o meu futuro vai passar por momentos mais duradouros a escrever.
No passado fiz vários ensaios para livros de contos, comecei dois ou três livros em formato de novela, iniciei um punhado de poemas que fui coligindo desde os tempos de faculdade e dei início a um livro auto-biográfico, bem documentado, desde a minha entrada na política, em meados dos anos 80. Não possuo ainda, porém, idade para autobiografias nem creio a quem isso possa interessar mas será, decerto, um legado que deixo aos meus sucessores. Pelo menos eu sinto falta de saber mais sobre os meus antecessores, dos quais sei apenas episódios fragmentados dos seus actos e pouco ou nada sei acerca do que eram os seus valores e ideais de vida. E não me venham dizer que nesse tempo as pessoas não pensavam, que não sabiam ler nem escrever, que passavam a vida a trabalhar a terra e a cuidar de uma existência vazia aos nossos olhos nos tempos que correm. Não acredito nisso, em termos generalistas.
Por isso, sei que se tiver saúde e lucidez, cada vez mais procurarei acrescentar à minha existência uma nova dimensão, que me dá já grande prazer: a de procurar que a palavra escrita me realize ainda mais. Vejo-me sentado na enorme varanda da minha casa - que ainda não existe - no Codes, debruçada sobre o vale mágico onde corre a ribeira, mansa e serena ao longo de quase todo o ano, a ouvir música, repleto de memórias de uma existência vivida com sentido, entre os despojos que terei coleccionado ao longo dos anos, em vários locais do nosso pequeno planeta Terra, cercado de imagens da minha existência e dos que me são ou foram próximos, quais fantasmas beingnos que me inspirarão a ser um criativo e inovador produtor de textos.

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