segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

#005 E agora?

A vida em sociedade é complexa. Vivemos num novo paradigma: o da sociedade subjugada à Teoria da Complexidade.
Segundo Maria João Centeno (Documento Instabilidade versus Complexidade na Mudança, disponível aqui), a Complexidade "vem retirar o carácter consciente e racional às decisões tomadas pelas partes envolvidas na relação".
Trata-se de um notável e lúcido artigo de reflexão, pelo que recomendo a sua leitura atenta. Na formação que estou a frequentar para as funções cujo desempenho estou a iniciar falou-se já, por diversas vezes, da Teoria da Complexidade, do Caos Organizacional, dos novos paradigmas das mudanças organizacionais em contexto de incerteza e globalização.
As mudanças organizacionais são sempre um enigma. E um desafio. Há uma relação estabelecida entre as organizações e os seus públicos. Mais ou menos profunda mas há - tem de haver! - uma relação entre organizações (empresas, instituições, governo, partidos políticos, religiões, etc) e os seus públicos.
Quando a organização comunica abertamente com os seus públicos e estabelece com eles uma relação dita democrática abre terreno ao debate e à discórdia, por um lado, e procura estabelecer consensos, por outro.
É aqui que entram os agentes facilitadores da comunicação com os públicos. O papel de um bom comunicador organizacional é procurar criar uma imagem de organização socialmente responsável perante a comunidade.
Nos partidos políticos também é assim. Os partidos mudam de lideranças, de protagonistas e, quando assim é, queiram ou não queiram, abre-se um espaço de discussão, de discórdia e de busca de consensos, ao mesmo tempo que os melhores comunicadores tentam desmistificar a sua organização, exibir a sua democraticidade e 'vender' uma imagem de responsabilidade social corporativa.
Os consensos nem sempre são possíveis e as partes ditas não-vencedoras tenderão sempre a dizer que, afinal, o jogo não foi limpo, transparente e democrático.
É aqui que entra a Teoria da Complexidade.
Segundo a autora já citada, e repetindo o atrás escrito, a Complexidade "vem retirar o carácter consciente e racional às decisões tomadas pelas partes envolvidas na relação".
Meditemos um pouco.
As partes envolvidas na relação tendem a adaptar-se às situações criadas. Uns assumem o conforto, outros o desconforto. E agem, reagem e interagem. Muitas vezes tende a gerar-se o equilíbrio entre as partes; mas nem sempre isso sucede. Por isso, tende a haver um equilíbrio quase homeostático entre cada uma das partes e o meio adaptativo no qual se insere.
Diz ainda Maria João Centeno, no mesmo artigo, que "o ritmo vertiginoso da mudança é cada vez mais difícil de controlar, até porque as pessoas formam e saiem dos grupos consoante as necessidades sentidas num preciso momento".
Diz ainda que "as pessoas não estão inclinadas a manter relações permanentes com um grupo. Tendem, isso sim, a criar relações curtas com um número de grupos que se identificam naquele momento com as suas preocupações".
Mas aquela pensadora alerta para uma realidade muito actual, que desejo aqui sublinhar: "A máxima de que a organização tem quase sempre mais poder do que os públicos está definitivamente posta em causa. Definir público como um grupo de pessoas que tem um interesse comum com uma organização é limitativo, na medida em que se assume que os públicos existem e têm importância somente como resposta a uma organização".
Creio que esta mensagem é um alerta para os 'comités centrais' ou 'directórios' partidários, a terem em conta no momento em que fazem as suas apostas.
É que, cada vez mais, os públicos não se limitam a reagir; eles são "comunidades interpretativas", agentes activos que desejam participar e ter opinião. E que decidem o seu próprio futuro. É que nem sempre é possível obter um processo dialógico e de compreensão sintonizada entre os desejos da organização e as expectativas dos públicos.
E, tantas vezes, já não basta um bom profissional de comunicação, ou mesmo uma equipa de profissionais de comunicação.
Já vai sendo tempo de os dirigentes partidários entenderem isto. E deixarem de pensar que as suas decisões, ainda que maioritárias, ou mesmo hegemónicas, são verdades absolutas inquestionáveis.
(Este post surge apenas por causa de 6ª feira passada!)

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